sábado, 5 de junho de 2010

Persistência e humildade.

Gustavo Rezende de Souza
Revisão: Patricia Fernanda Ribeiro



Você, profissional experiente ou novato na área de segurança do trabalho sabe quantas são as dificuldades que encontramos durante o nosso dia-a-dia. Exercemos uma profissão nobre que se responsabiliza por resguardar a vida dos trabalhadores, no entanto sabemos também que apesar de ser gratificante o setor de segurança do trabalho, no Brasil, ainda não é visto como um agregador de valores para uma organização.

Após a criação da OHSAS ( Occupational Health and Safety Assessment Specification) 18001 em 1999, houve uma maior atenção de algumas organizações a respeito desse novo sistema de gestão, mas infelizmente muitas delas se preocuparam apenas com a “marca” da certificação, auxiliando na sua estratégia de marketing.

De certa forma, uma gestão eficiente de segurança e saúde ocupacional pode refletir positivamente na imagem de uma organização. A questão é que muitas delas esquecem de transmitir essa imagem para quem mais auxilia no seu desempenho, seus colaboradores, que ficam suscetíveis aos riscos laborais. Esses, com base em dois extremos, podem levar uma gestão de segurança aos níveis de excelência ou a um abismo profundo caso não assimilem a estratégia.

Então como podemos causar uma reflexão nos colaboradores? Estimulando a mudança de seus hábitos e costumes. Segundo Heinrich (1941) existem dois dominós que levam ao acidente de trabalho que são diretamente ligadas as pessoas, a ancestralidade e a falha pessoal. Observo que para corrigir os desvios de conduta as atitudes mais simples são as que mais geram efeito, o simples fato de se importar com a vida de alguém e escutar o colaborador sobre possíveis medidas de controle que possam neutralizar um agente periculoso é uma excelente forma de mostrar que a área de segurança do trabalho vai muito além de um monte de papéis que buscam apenas a assinatura de um colaborador a fim de um resguardo jurídico. Outro ponto fundamental é ser paciente. Imagine você acostumado a jogar futebol pelas ruas e campos de várzea, com os pés descalços, sobre o asfalto ou a terra que machucam seus pés constantemente, sem contar as divididas com os zagueiros no “canela contra canela” ter de jogar, de uma hora para outra, com chuteira, caneleira, em um gramado artificial. Nós sabemos o quanto essa mudança seria difícil, meu pai sempre me repete isso. Vemos que um caso que trata do lazer encontra sua resistência, imagine quando o assunto é sua atividade profissional, nos depararemos com pessoas vividas que exercem suas funções antes mesmo de alguns TSTs terem nascido, então devemos cativá-las, orientando e mostrando que existe um caminho seguro que continua sendo produtivo para o desempenho de suas tarefas, dessa forma teremos uma aliança formada com os colaboradores, pois nos apoiaremos uns nos outros em um trabalho conjunto para nos anteciparmos, avaliarmos e controlarmos os riscos laborais. Essa questão é tão complexa que são poucas as organizações que chegam a esse patamar de interação entre SESMT e “Chão de fábrica”. Mudar o perfil profissional levando-o a uma conduta de segurança leva muito mais tempo e demanda um trabalho bem maior do que a criação de procedimentos documentais ou programas de prevenção, já que estamos lidando com pessoas. Por isso profissional de SST estabeleça uma relação de respeito com o colaborador; saiba identificar os motivos pelo quais ele não usa um EPI ou porque não segue determinada regra de segurança, esse conhecimento não se adquire em nenhuma escola é algo de vivência e aprendizado contínuo, não busque bancar o general ou policial que trata seu trabalho de TST como uma ditadura de obrigações do colaborador sem ao menos dar uma chance dele expor suas idéias ou usar expressões de baixo calão que provoquem apenas o desgaste de ambas as partes.

Tive a oportunidade de almoçar com um Prof. Mestre em Engenharia da USP do curso de Engenharia de Segurança do Trabalho, ele fez com que o meu respeito e admiração pelo seu trabalho só aumentasse quando disse:
“ Nunca menospreze o conhecimento de ninguém independente de quem seja essa pessoa e seu nível de escolaridade, devemos tratar a todos de igual para igual”.

Os colaboradores tem muito a contribuir.